domingo, 13 de março de 2011

Grupo busca informações que ajudem na localização de desaparecidos na Guerrilha do Araguaia

Araguaia: grupo quer achar restos mortais (Foto: Reprodução)
(Foto: Reprodução)
O Grupo de Trabalho Tocantins, que procura restos mortais de guerrilheiros e militares desaparecidos durante a Guerrilha do Araguaia, começou, no início deste mês, a fase de entrevistas com pessoas da região que viveram o período de confronto. O grupo quer saber se elas têm informações que possam levar à localização dos restos mortais dos desaparecidos.
Os integrantes da Equipe de Entrevistas e Contextualização dos Fatos estão no sudeste do Pará e no norte do Tocantins. De acordo com o Ministério da Defesa, as entrevistas são importantes para orientar as explorações de campo. As buscas foram interrompidas em janeiro e serão retomadas após o fim do período chuvoso na região, previsto para maio.
Além disso, peritos do Instituto de Medicina Legal do Distrito Federal (IML-DF) e da Polícia Federal (PF) trabalham na identificação dos restos mortais encontrados no ano passado. O material está guardado no Hospital Universitário de Brasília, administrado pela Universidade de Brasília (UnB).
Este ano, o grupo vai explorar as regiões de Pimenteira, Castanhal de Zé Alexandre, Oito Barracas, fazenda Pai e Filho, cemitério de Xambioá e Cemitério de Marabá. Essas áreas estão situadas nos municípios paraenses de Marabá, São Domingos do Araguaia, São Geraldo do Araguaia, e na cidade de Xambioá, em Tocantins.
O grupo foi criado pelo Ministério da Defesa em abril de 2009, por determinação da 1ª Vara Federal de Brasília. A Justiça determinou que a União deve tentar encontrar os restos mortais dos envolvidos na Guerrilha do Araguaia, ocorrida há cerca de 40 anos na região.

www.diarioonline.com.br

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Polícia Federal cria base em São Paulo para em busca de corpos de vítimas da ditadura

De acordo com notícia da Folha de S. Paulo, a Polícia Federal começa a usar, dia 14 de fevereiro, uma base de exames permanente em São Paulo para buscar a identificação de corpos de desaparecidos políticos vítimas da ditadura civil-militar (1964-1985) supostamente enterrados nos cemitérios paulistanos de Vila Formosa e Perus. 

O trabalho é uma parceria com o Instituto Médico Legal de São Paulo e terá como foco inicial a descoberta dos restos mortais do militante Sérgio Corrêa, da ALN (Ação Libertadora Nacional). No início de dezembro, peritos da PF retiraram do cemitério de Vila Formosa várias ossadas de uma vala que provavelmente recebeu o corpo de Sérgio, de acordo com as apurações do órgão. 

Jeferson Evangelista Corrêa, chefe de medicina forense do Instituto Nacional de Criminalística da PF, afirma que serão feitos exames antropológicos nos restos mortais, o que inclui a verificação de arcadas dentárias, dimensões de ossos e características de sexo e idade.
Essas perícias permitirão uma triagem inicial para definir quais ossadas serão submetidas a exames de DNA. Segundo Corrêa, o trabalho será feito em uma sala do IML em caráter permanente, com pelo menos dois peritos da PF e dois do instituto paulista até o final dos trabalhos de identificação

Anteriormente, as atividades de investigação foram realizadas em etapas e com interrupções, e agora a meta é dar um andamento mais rápido às apurações, de acordo com Corrêa. No dia 14 de fevereiro, de acordo com a notícia da Folha, seriam retomados os trabalhos de busca da ossada do também militante da ALN Virgílio Gomes da Silva, supostamente enterrado no cemitério de Vila Formosa

Nas últimas semanas, peritos de geofísica da PF analisaram fotos aéreas, mapas e registros antigos do cemitério para delimitar as áreas com maior probabilidade de ter recebido o corpo.
As ossadas eventualmente retiradas na nova etapa de exumações em Vila Formosa também deverão ser analisadas em São Paulo.

Em Brasília, equipes da área de genética do INC estão realizando exames de DNA em restos mortais recolhidos no cemitério de Perus em outubro de 2010. A meta é identificar os corpos dos militantes de esquerda Luiz Hirata, da organização AP (Ação Popular), e Aylton Adalberto Mortati, do Molipo (Movimento de Libertação Popular), desaparecidos desde 1971.

A PF também prevê a realização de trabalhos nos cemitérios do Araçá e de Parelheiros nos próximos meses.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Divã para livrar o país da "Síndrome do Quepe"


O período militar é um cadáver insepulto.
A jovem democracia brasileira tem uma enorme dificuldade de lidar com seu passado.
Nos momentos em que os conflitos políticos são de baixa intensidade, a tendência da sociedade é simplesmente jogar esse período negro da vida do país para debaixo do tapete.
Quando são de média intensidade, o passado põe a cabeça de fora e lembra que continua no ar, como uma nuvem, e a chuva pode desabar a qualquer momento sobre nossas cabeças.
Em situações de grandes conflitos, como no recente período eleitoral, grupos sociais mais conservadores retiram do embornal um discurso que parece ter saído da boca de um general-presidente, com grande espaço para teorias conspiratórias dando conta de perigosas “ameaças comunistas”.
Como o uso do cachimbo normalmente entorta a boca, os movimentos políticos, desde o pré-64, voltam sempre para a lógica segundo a qual um lado sempre deve estar na ofensiva e o outro, na defensiva. A contaminação da oposição pelo velho udenismo trouxe junto o hábito de pedir a tutela dos quartéis, quando seu projeto político não consegue se viabilizar pelo voto.
Mas uma das coisas que alimenta a recaída permanente da elite brasileira ao conservadorismo – e ao militarismo – é o outro lado.
O velho PSD, de Tancredo Neves, também permanece como padrão de comportamento político: a recusa a qualquer tipo de confronto, em especial quando pode resvalar na área militar.
Os dois lados se alimentam de um consenso forjado sabe-se lá onde, de que a direita tem legitimidade para levar o confronto ao limite, enquanto, do centro à esquerda, os atores políticos tornam-se irresponsáveis se não estiverem sempre conciliando.
As Forças Armadas são peça central nas situações de confronto: não só assimilam apelos de tutela da democracia, como são a instituição que avaliza as pressões de um grupo minoritário – de direita – sobre o resto da sociedade.
A lembrança do passado só vem à cena política quando serve a esse jogo de pressão.
O Ministério da Defesa, concebido teoricamente para submeter o poder militar às instituições democráticas, nem bem nasceu e parece estar contaminado pela visão udenista das Forças Armadas, que requer sempre uma ação pessedista, de conciliação, para evitar o pior.
O ministro Nelson Jobim, que o governo Lula considera ter desempenhado um papel importante na consolidação do Ministério da Defesa, é tido como um ponto de equilíbrio não por ter assumido o comando das armas, mas por ter exercido um papel de mediador das pressões militares junto a um governo civil de esquerda.
O vazamento de documentos relativos ao ministro, pelo Wikileaks, trouxe à luz provas de que as forças militares continuam um capítulo à parte na história da democracia brasileira – e isso, mesmo quando o seu chefe é civil.
Um ministro da Defesa que foi mantido e se fortaleceu nas brigas que comprou dentro do governo, com colegas mais comprometidos com visões não-conservadoras sobre os Direitos Humanos e sobre a forma de lidar com o passado autoritário do país, expôs as suas divergências com o Ministério das Relações Exteriores a ninguém menos que o embaixador dos Estados Unidos no Brasil (Clifford Sobel).
Gentilmente, cedeu ao embaixador a informação, dada confidencialmente pelo seu chefe, o presidente da República, sobre o estado de saúde do presidente da Bolívia, Evo Morales.
As inconfidências ganham os jornais dias depois de Jobim ter sido confirmado, na mesma pasta, para o próximo governo. Continua ministro de Lula e será o ministro de Dilma Rousseff.
O governo Dilma acena para a manutenção de uma situação em que o Ministério da Defesa – e portanto as Forças Armadas – não se integra a um governo legitimamente eleito, mas se mantém no governo com altíssimo grau de autonomia, graças a ondas de pânico criadas por grupos de direita.
Paga o mico das inconfidências de “um ministro da Defesa invulgarmente ativo”, segundo definição do próprio Sobel em um de seus telegramas.
A falta de reação a ofensivas da direita tem seu preço. As Forças Armadas são um terreno fértil à pregação conservadora e a absorve com rapidez e clareza.
Não deve ser à-toa que, depois de um processo eleitoral particularmente radicalizado – onde prevaleceu a lógica do udenismo que confronta e apela aos quartéis e do pessedismo que concilia — que a turma que se forma este ano na Academia Militar de Agulhas Negras (AMAN) tenha se batizado com o nome do general Emílio Garrastazu Médici, presidente militar do período mais sangrento da ditadura.
Os militares se retiraram para os quartéis, mas é evidente que continuaram reproduzindo internamente uma ideologia altamente conservadora, que não afasta o papel de tutela sobre a sociedade civil.
Isso aconteceu, porque não houve uma contra-ofensiva capaz de colocar outra visão sobre o papel dos militares na sociedade e fazê-la dominante.
A discussão do aprimoramento da democracia deve passar por uma profunda revisão do papel das Forças Armadas e por uma integração, de fato, da instituição nos esforços democráticos da sociedade.
A propósito: as consultas sobre os processos contra os adversários políticos da ditadura instruídos pela Justiça Militar podem ser consultados na Unicamp, que recebeu todos os arquivos reunidos pelo grupo Tortura Nunca Mais, abrigado na Arquidiocese de São Paulo, durante a ditadura. O grupo copiou os processos na Justiça Militar e, com base neles, fez um importante trabalho de denúncia de torturas e assassinatos de opositores políticos do regime.
O trabalho final do grupo assume como legítima a ideia de que as denúncias de tortura por parte dos presos políticos, feitas no período à Justiça Militar, tornam sem valor as informações obtidas por esses meios.
Para saber o que fizeram os presos políticos para se tornarem presos políticos, é mais garantido que se pergunte isso a eles hoje. Na democracia e em liberdade.

* Por Maria Inês Nassif, publicado no jornal Valor Econômico em 2 de dezembro de 2010.